Mulheres abandonam o tabaco mais rápido, mas homens e jovens seguem vulneráveis.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório inédito sobre o consumo de tabaco e nicotina entre 2000 e 2024, trazendo dados que acendem um sinal de alerta mundial: mais de 100 milhões de pessoas fumam cigarros eletrônicos (vapes), e 15 milhões delas são adolescentes entre 13 e 15 anos.
O documento aponta que, embora os cigarros eletrônicos sejam promovidos como uma alternativa “menos nociva” ao cigarro tradicional, eles estão “alimentando uma nova onda global de dependência da nicotina”, especialmente entre os jovens.
“Os cigarros eletrônicos estão ensinando os adolescentes a fumar mais cedo, e não a deixar de fumar”, afirmou Etienne Krug, diretor do departamento de fatores que determinam, promovem e previnem a saúde da OMS.
O vape é amplamente vendido como uma tendência moderna, com aromas doces e design tecnológico, o que mascara o perigo real. Segundo o relatório, 86 milhões de adultos também usam vapes, sendo a maioria em países de alta renda — onde o acesso é facilitado e a publicidade disfarçada de “lifestyle” é mais agressiva.
O uso entre adolescentes, no entanto, preocupa ainda mais. Pesquisas mostram que estudantes universitários que fumam vape têm desempenho cognitivo até 14% inferior aos que não fumam. Segundo os autores do estudo, “o vape entorpece o cérebro dos alunos e prejudica funções essenciais como atenção e memória”.
Os resultados indicam que o consumo diário — mesmo em pequenas quantidades — pode alterar o funcionamento cerebral, o humor e a capacidade de aprendizado.
Um dado positivo do relatório: as mulheres estão abandonando o tabagismo mais rapidamente que os homens. A OMS revelou que elas alcançaram a meta global de reduzir o consumo de tabaco em 30% até 2025 cinco anos antes do previsto, atingindo esse marco já em 2020.
Essa diferença é atribuída, segundo especialistas, a maior busca feminina por hábitos saudáveis, programas de prevenção e influência de campanhas educativas voltadas à maternidade e bem-estar.
Apesar do crescimento do vape, o relatório também revela uma boa notícia: o número total de usuários de tabaco no mundo caiu em um terço nos últimos 20 anos — uma redução de cerca de 118 milhões de pessoas desde 2005. Isso se deve principalmente à tributação mais alta e às restrições à publicidade.
Contudo, a OMS alerta que a indústria do tabaco tem transferido o foco para o público jovem, com produtos “modernos” e “personalizáveis” — o que ameaça reverter os avanços obtidos na luta contra o tabagismo.
“Estamos diante de uma nova forma de pandemia silenciosa: o vício disfarçado de modernidade”, conclui o relatório.
No próximo artigo da TVSaude.Org, vamos mostrar como o uso frequente de cigarros eletrônicos pode alterar permanentemente o humor e a cognição de adolescentes, e por que alguns estudos já apontam ligação direta entre vape e sintomas de ansiedade e depressão.